domingo, 26 de janeiro de 2014

COM QUE CORAGEM VAMOS CONTAR-LHES?



COM QUE CORAGEM VAMOS CONTAR-LHES?
Victor Jerónimo

Avôzinho querido porque está tanto calor?
Minha netinha porque os homens na cobiça
Não souberam parar na busca da riqueza,
Inventaram tecnologias de ponta e destruição´
Em energias atomicas que causaram radiação.

Avôzinho querido porque não há agua para beber?
Minha netinha porque a água foi poluída em demasia,
Nas águas outrora limpidas o lixo vazaram
Estes chegarem às nascentes e se perderam,
E com a água da chuva ácida vem a agonia.

Avôzinho querido, porque não consigo respirar?
Oh minha amada netinha vem para o meu regaço
Aninha-te junto a mim para te fazer carinho.
Para com esta pouca água te refrescar
E contigo repartir a botija de oxigenio.

12.Jan.2007

Recife

A INFÂNCIA E O MUNDO


A INFÂNCIA E O MUNDO
Mercêdes Pordeus
Recife/Brasil

Eu dormi e sonhei com a infância
No sonho as crianças eram felizes
Era uma felicidade plena de matizes
Num mundo sem quaisquer cicatrizes.

Enquanto sonhava, fui tomada pela aflição.
Por quê? Perguntava-me, essa contradição?
Infância nas ruas pedindo um pedaço de pão,
Crianças nas calçadas, a infância na solidão.

Aos poucos meu sonho se tornava pesadelo
Em meio à confusão, crianças sem desvelo.
Queria acordar. Seria mesmo um pesadelo?
Chorei e expressei minhas palavras de anelo.

Oh! Crianças, herdeiras do Reino dos Céus!
Pergunto-me:- Por que vivem jogadas ao léu?
Violentadas todo o dia, exibidas como troféus.
Quem sabe um dia ainda possam dizer: Valeu!

Finalmente, depois de tanta angústia, eu acordei.
Olhei para meu filho, e que privilégio, eu pensei!
Senti a felicidade de ver uma criança com um lar,
Conhecendo e sentindo o sentido do verbo amar.

Até quando sofrerão a maldade sem piedade?
Andando solitárias e com fome pelas cidades
Onde está a humanidade e sua solidariedade?
Violentando crianças desde a mais tenra idade?

29/set/06

A ÁGUIA



A ÁGUIA
Victor Jerónimo

Alças o teu livre vôo
da terra que te criou,
Partes na leva do vento
ao encontro da liberdade.

Miras-nos lá dos altos
em circulares vôos,
Sorris da tua liberdade
alcançada em vôo milenar.

Cada vez mais alto,
Cada vez mais leve,
Já nem os ventos te guiam
apenas te conduz a alma.

E assim te libertas do corpo,
Daquele invólucro que te prendia
nas dores de um mundo louco.
Agora és livre... livre para sempre!

Boa viagem, linda águia!...

Recife, 08.Jun.2007

sábado, 18 de janeiro de 2014

A Cesária - Casa de Fados


A Casa de Fados "A Cesária", situada na Rua Gilberto Rola em Alcântara, era uma tasca já desde o século XIX.
(...)
Segundo a tradição, terá sido neste local, outrora uma "taverna" que Maria Cesária, terá cantado pela última vez em 1877.
(...)
A Casa A Cesária fechou definitivamente as portas em 1988.

(Elementos de escrita copiados do Vitor Marceneiro em
http://lisboanoguiness.com/218290.html )

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Homenagem a Ti Alfredo

Versos de: Valentim Matias
26 de Maio de 2008 

Eu lembro-me de ti / Alfredo Marceneiro
O cantador de fado / O mestre de dizer
Maior entre os maiores/ Primeiro entre os primeiros
Serás sempre lembrado / Jamais te irei esquecer

Eu lembro-me de ti / Fadista de eleição
Que viveste Lisboa / E a fizeste viver
Nos versos que escreveste / E na composição
Marcaste-o para sempre / Fizeste o fado Ser

Eu lembro-me de ti/ Dos fados que cantaste
Como o fado Viela / E também o Bailado
O Natal do Moleiro / Que bem interpretaste
Não é facil dizer / Qual o teu melhor fado

Eu lembro-me di ti / E do amor que tinhas
Pelos Colchetes de Oiro / E p`lo Amor de Mãe
Lucinda Camareira / Leilão da Mariquinhas
Alfredo foste Tu / Sem imitar ninguém



Ericeira, Portugal



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A ALA DOS NAMORADOS

PAINEL DE AZULEJOS no Pavilhão Rosa Mota, Lisboa




sábado, 11 de janeiro de 2014

NÃO É DO VICTOR HUGO, NÃO!!!

OS VOTOS

“ Pois, desejo primeiro que você ame e que amando,
seja também amado,

E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo,
não guarde mágoa.

Desejo depois que não seja só, mas que se for,
saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.

Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,
Mas razoavelmente útil. E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,
E que essa tolerância não se transforme em aplauso
nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,
não insista em rejuvenescer e que, sendo velho,
não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.

Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,
nem em um mês e muito menos numa semana,
mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra
que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra com o máximo de urgência,

acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã,
que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
e que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.

Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão
e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante
o seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento
dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:
Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.

Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar
quando o abuso se impõe.

Desejo também que nenhum dos seus afetos morra,
por ele e por você.
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar
e sofrer sem se lamentar.

Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte,
mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda tenham amor para recomeçar.

E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar. ”


 Sergio Jockymann – 1978 

publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS
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É SEMPRE A MESMA COISA...

O internauta vê aquele poema de que gostou, copia para o seu blogue ou site, ou facebook, qualquer um, na copia tira o nome do autor e prontos lá vai para o ar um poema sem autor.
Então vem outro que gosta do poema e que gostava de saber quem é o autor, como ele não tem tempo, ou não sabe procurar nos motores de pesquisa, publica como autor desconhecido.
Então aparece o esperto, aquele que pensa que se não tem dono então passa a ter e vai de por o nome dele.
Há os mais perigosos os grandes ladrões, esses copiam o poema, tiram o nome do autor e publicam como seu, com a agravante que aparecem os leitores ingénuos ou incautos e vai de elogiar o poema, dezenas, centenas de vezes, muitas vezes mais do que o verdadeiro autor recebeu.
Felizmente que há almas caridosas que como autênticos detectives, descobrem essas fraudes e denunciam.
Sem desmerecimento dos outros, estou a recordar-me da Rosangela Aliberti
https://www.facebook.com/rosangela.aliberti que tem feito um trabalho incansável na descoberta dessas fraudes.
Victor Jerónimo

11.Jan.2014

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Biografia e bibliografia da Mercedes Pordeus

Biografia e bibliografia da Mercedes Pordeus

Mercêdes Pordeus, nasceu em Olinda, graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco.
Casada com o poeta português Victor Jerónimo.
“Sou uma pessoa comum, escrevo incentivada pelo Victor, escrevo com simplicidade, apenas transponho para o papel meus sentimentos em forma de poesia, ou cursiva.”

PRODUÇÕES LITERÁRIAS:

Organizou em conjunto com Victor Jerónimo, a Primeira Antologia Literária do Grupo Ecos da Poesia com o título O FUTURO FEITO PRESENTE.
Esta Antologia foi lançada no dia 02 de Abril de 2005 na Casa de Portugal em São Paulo. ISBN 85-9051170-1-2.

Organizou em conjunto com Victor Jerónimo, a Segunda Antologia Literária do Grupo Ecos da Poesia com o título DOIS POVOS – UM DESTINO.
Esta Antologia foi lançada no dia 22 de Abril de 2006 na Casa de Portugal em São Paulo e em 18 de Maio de 2006 no Gabinete Português de Leitura no Recife. ISBN – 85-905170-5-5.

PARTICIPAÇÕES LITERÁRIAS:

Participou da primeira Antologia em livro da Academia Brasileira Virtual de Letras (ABVL) em 2004. ISBN 85-98219-02-9

O FUTURO FEITO PRESENTE Primeira Antologia Literária do Grupo Ecos da Poesia , (2005). ISBN 85-9051170-1-2.

TERRA LATINA, Antologia Internacional editada pelo Projeto Cultural ABRALI em 2005. ISBN 85-905170-3-9.

TERRA LUSÍADA, Antologia Internacional editada pelo Projeto Cultural ABRALI em 2005. ISBN 85-905170-3-9

OFICINA POESIA 20 ANOS, da Oficina Editores, Rio de Janeiro, Brasil (2005) ISBN 859828520-X

DOIS POVOS – UM DESTINO Segunda Antologia Internacional do Grupo Ecos da Poesia (2006). ISBN – 85-905170-5-5

MARGENS DO ATLÂNTICO, Antologia Internacional editada pelo Projeto Cultural ABRALI em 2006. ISBN 85-905170-6-3

ALÉM DAS LETRAS, antologia editada pelo Clube Amigos das Letras em 2006. Edição comemorativa de Evento Cultural Literário, IV Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita. Lançamento em 21 de abril de 2006.

II ANTOLOGIA PORTAL "CÁ ESTAMOS NÓS" , antologia editada pelo Portal CEN. ISBN 85-77418-020-4.

DIPLOMAS, CERTIFICADOS E MENÇÕES HONROSAS:

1° -IV Seletiva de Poesias Contos e Crônicas de Barra Bonita, categoria Consagrados com o Poema ENQUANTO A CIDADE DORMIA.
Realização Clube dos Amigos das Letras, por Sérgio Grigoletto.

2º -11º LUGAR NO XII FESERP - PROMOVIDO PELA ACAUÃ PRODUÇÕES APARECIDA/PB- BRASIL - PRÊMIO AUGUSTO DOS ANJOS COM O POEMA LEGADO PARAIBANO.

3º -Certificado de Participação do Concurso de Poesias, prêmio Belarmino França 17º Lugar - Certificado de Participação.
Promovido pela Secretária Municipal de Educação e Cultura de São Bentinho/PB.

4º- Menção honrosa Academia Pan-Americana de Letras e Artes -APALA - IX Concurso de Poesia Falada - AS DORES DA ESCRAVIDÃO em 26 de abril de 2006.

5º- III Olimpíada Cultural 500 Anos da Língua Portuguesa no Brasil, com a obra BRASIL e PORTUGAL, na Categoria Consagrada, em 25 de maio de 2006.
Realização Clube dos Amigos das Letras - Sérgio Grigoletto. Barra Bonita.

6º- Certificado de Menção Especial do XVII Concurso Nacional de Poesia – “Werner Horn”, no período de março a outubro de 2006, da ALAP – Academia de Letras e Artes de Paranapuã , Ilha do Governador/RJ, com o Poema NO DIA QUE O SONHO ACABOU.

7º- Certificado de Participação da 8º Artes nos Hospitais – HSE-MS, 1º Concurso de Poesia do CEA/, HSE-MS “Premio  Germana Figueiredo com o poema “ Meu Coração e Minhas Emoções”.(Hospital dos Servidores do Estado do Ministério da Saúde – Rio de Janeiro).
  
BLOG

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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

AGORA E PARA SEMPRE

E em ti minha alma se acende

AGORA E...
Victor Jerónimo

Agora um templo novo é nascido
Das profundezas do meu ser.
Tal como um altar rejuvenescido
Dos escombros do anoitecer.

Catedral imensa se adivinha
Em forma e conteúdo,
Qual presença embevecida
Em luz, formas e amor.

E em ti minha alma se acende,
E em mim um altar renasce,
Pleno numa alegria imnuscuída.

Tudo se foi e se perdeu no tempo.
Agora há uma nova luz vivida.
No porvir o renascer do nosso encanto.

21.07.2004

PARA SEMPRE
Mercêdes Pordeus

Para sempre edifiquei meu amor
Sobre uma pedra angular
Por isso, ele não ruirá
Sob efeito de nenhuma erosão.

Renascido do meu âmago
Estruturou-se através do cotidiano,
Suas estruturas advêm das experiências
Se com sabedoria discerni-las.

Se em ti minha alma se acende
A cada alvorecer renasce
Tomando dimensões impalpáveis.

Se encontraste uma nova luz vivida,
Eu em ti também a encontrei,
Então a façamos renascer no porvir.

28/07/2004

MAINTENANT, E…
Victor Jerónimo

Ce jour… vient de germer un nouveau temple
des profondeurs de mon être
tel un autel revenu
des décombres de la nuit

Une immense Cathédral, augurons
en format et en contenu
Telle une présence, passion
de lumière, contours et communion

En toi, mon âme s’embrase 
et en moi, un oratoire revit
Empli d’une intrinsèque joie

Le passé est révolu, évanoui dans les temps
Une nouvelle lumière est apparue
L’avenir, est la renaissance de notre magie.

POUR TOUJOURS
Mercêdes Pordeus

J’ai construit mon amour… pour toujours
sur une pierre angulaire
Pour qu’il ne tombe pas en ruines 
sur l’effet de l’érosion du temps

Réanimé du profond de mon âme
et rénové dans tous les quotidiens
Ses bases sont des appétences
qu’il faut discerner avec sagesse

Si en toi, mon âme s’enflamme
Chaque matin, est claire genèse
qui prend des dimensions inédites

Si en moi, tu vois une lueur animée
Je l’ai puisée au sein de ton être
Gardons-la frétillante à l’éternité.


(Traduzido por : Fernando Oliveira, "FEROOL"Paris)


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Pois é...

Quando pensamos que já passamos por tudo na vida, quando chegamos aquela meia-idade em que a calma se apodera de nós e o espírito enfim descansa, ele aí está, aparece de rompante e em força, sem pedir licença.
Eis o AMOR.
Se pensavas que já estava tudo certo na tua vida, muito te enganaste, aliás todos nos enganamos, nada é certo nesta vida.
Aquele amor adulto, próprio dos seres evoluídos, que nos acende a alma, pois é, é assim... AGORA E PARA SEMPRE

Victor Jerónimo
09.Jan.2014
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TUDO A NU

Comecei a frequentar a internet em 1999 e a primeira tendência que a maioria tem, quando viaja por lazer é visitar as salas de convívio. Foi numa sala assim que conheci a "PAROUSIA" Comecei por visitar salas de bate-papo na UOL e similares, mas não me agradava os convívios que havia por lá. Quando "entrei" na net eu não acreditava em namoros, muito menos amores (ainda hoje não acredito) virtuais portanto as salas UOL não me diziam nada.
Mas em tudo há um pouco de sorte e essa a tive quando conheci uma moça de Brasília numa dessas salas e com ela fiz amizade (a primeira de algumas) e então foi através dela que eu aprendi a trabalhar com a MSN, com as salas de convívio e aprendi como fazer uma. Muito devo nesse aspecto e não só a esta senhora.
Criei então a sala de bate-papo Torre de Belém assim como o Grupo. Esse bate-papo teve sempre por objectivo maior o convívio são, entre portugueses e brasileiros.
Em uma dessas noites fui ""viajar" por outras salas e entrei na Alma Lusa, onde a conheci.
Vocês sabem que duas almas iguais é igual à soma dos catetos vezes a hipotenusa, por isso logo ali nasceu uma cumplicidade, que foi crescendo, crescendo e se transformou em amor, ao vivo e a cores no dia 02.Agosto.2003 em Portugal.
E a Parousia se transformou em Mercêdes Pordeus
Victor Jerónimo
10.Jan.2014



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Balada Do Outono

Balada Do Outono
José Afonso

Águas passadas do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

À ESQUERDA DAQUELA ÁRVORE



Jardim Botânico da Faculdade de Ciências, Lisboa, Portugal


À ESQUERDA DAQUELA ÁRVORE
Victor Jerónimo
Lisboa/Portugal 

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

no Jardim Botânico, que é um parque muito calmo
onde se pode sentir sempre próximo uma árvore,
mas tem sempre que cumprir-se uma cláusula...
...que a cidade fique tranquilamente, longe.

O segredo é apoiar-se digamos, num tronco

e ouvir através do ar, que admite ruídos mortos
como se Reis e cavaleiros galopassem entre as trevas.

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

mas no Jardim Botânico, sempre existiu
uma agradável propensão para os sonhos,
porque os insectos sobem pelas pernas,
porque a melancolia desce pelos braços,
até que uma palmada nossa os afaste.

Depois disto tudo o segredo é olhar para cima

e ver como as nuvens lutam entre as copas
e ver como os ninhos lutam pelos pássaros.

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

mas há casais que buscam o Botânico
eles descem de um táxi, ou saem das nuvens
falam normalmente de temas importantes
e olham-se fanaticamente nos olhos
como se o amor fosse um pequeno túnel
para se contemplarem dentro desse amor.

Olhem, por exemplo, para a esquerda daquela arvore

falam e, as suas palavras, param
comovidas a olharem-se e, a mim...
nem sequer seus ecos chegam.

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

porém, é lindo imaginar o que dizem
sobretudo se ele morde um ramo,
ou se ela deixa um sapato entre as pedras,
sobretudo se ele tem uns olhos tristes
ou se ela quer sorrir, porém não pode.

Para mim o rapaz está a dizer

o que se diz muitas vezes no Jardim Botânico

Olha, chegou o Outono

O sol de Outono
E sinto-me feliz
Que linda que tu estás
Sinto-me feliz
Quero-te
No meu sonho
Da noite
Onde escuto as conchas,
O vento no mar
E sabes?
Aqui também há silencio
Olha para mim
Quero-te,
Eu trabalho muito
Faço números
Fichas,
Discuto com cretinos,
Distraio-me e zango-me
Dá-me a tua mão
Agora
Sabes?
Quero-te muito
Penso ás vezes em Deus
Não tantas vezes,
como gostaria
não gosto de roubar
o seu tempo
mais a mais está longe
agora tu,
estás ao meu lado
e, agora mesmo estou triste
estou triste e quero-te
já passaram muitas horas
na rua está um rio
as arvores ajudam
os céus
e que sorte a minha
quero-te
há muito era menino
há muito o que importa
o azar era muito
como entrar em teus olhos
deixa-me entrar
quero-te
deixa-me entrar
quero-te
menos mal, mas quero-te

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

mas pode acontecer de repente e sem aviso,
Porque na realidade trata-se de algo desolador
desses amores de fortuna e azar
que Deus não admite nos seus céus

Reparem que ele acusa-a com ternura

e ela esta contra a cortesia,
Reparem que ele vai falando de recordações
e ela fica consternada misteriosamente.

Para mim ela está a dizer

o que se diz muitas vezes no Jardim Botânico,

Repara no que falaste

Nosso amor
Foi sempre uma criança morta
Mas há pouco, parecia
Que ía viver
E que, venceríamos
Porém nós dois fomos tão fortes
Que o deixamos sem seu sangue
Sem o seu futuro
Sem o seu céu
Uma criança morta
Só isso
Maravilhoso e condenado
Nunca terá um sorriso
Como a tua
Doce onda
Nunca terá uma alma triste
Como a minha alma
Pouca coisa
Nunca aprenderá com o tempo
A usar o mundo
Porém as crianças que assim vivem
Mortos sem amor e
Mortos de medo
Têm um coração tão grande
Que se destroem sem o saber
Tu disseste-o
Nosso amor
Foi desde sempre uma criança morta
E que verdade dura e, sem sombra
Que verdade fácil e, que pena
Eu imaginava que era uma criança
E afinal era, uma criança morta
Agora pára
Pára
Mede a tua fé e recorda
O que podíamos ter sido
Para ele
E que não pôde ser nosso
E mais
Quando chegar Abril
Vê onde estas
Que eu levarei flores
E tu comigo

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

porém o Jardim Botânico é um parque sonolento
que só desperta com a chuva.

Agora a ultima nuvem parou

e molha-nos como se fossemos alegres mendigos.

O segredo está em correr com precaução

para não matar nenhum escaravelho
e não pisar os fungos que aproveitam a chuva
que nascem desesperadamente.

Sem prevenir dou a volta e sigo,

Áqueles que à esquerda da árvore
eternos e escondidos da chuva,
Falando quem sabe, que silêncios.

Não sei se alguma vez isto se passou com vocês

mas quando a chuva cai sobre o Botânico
aqui só param os fantasmas...

Vocês...

podem ir-se.
Eu... fico aqui!...

Escrito em Outubro de 1988 no Jardim Botânico de Lisboa 


Terra Latina, Antologia Poética Internacional (2005) ISBN 85-905170-3-9


Menção Honrosa, Prémio Litera-Cidade 2013-Poesia, com publicação no livro Cantos Seletos, da Editora Litera-Cidade, Belém/Pa, Brasil ISBN 975-85-64488-37-3



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Trajectória de um vadio

Desde criança, estive ligado aos livros, primeiro através do meu tio, grande leitor de romancistas portugueses e não só, depois dediquei-me à pintura mas sem êxito, embora tivesse algumas qualidades não tinha paciência, mas sempre esfumava alguma coisa, principalmente em reuniões.
Como lia muito, cerca dos meus 12 anos comecei a rabiscar em pedaços de papel, por vezes papel de embrulho que mais tarde transformava em soberbas bolinhas e com elas fazia pontaria no que calhava.
Cerca dos meus 14 anos escrevia sobre cenas do quotidiano e muita ficção cientifica, começando então a guardar o que escrevia, guardava religiosamente e não mostrava a ninguém, alias eu escrevia em segredo, geralmente nos bancos dos jardins, onde metia uma folha dentro de um livro e assim escrevia.
Aos 20 anos conheci o Armando da Costa Santos, grande trovador, com a alcunha do "Armando maluco", porque entre muitos dos seus feitos estava o facto de ele escrever poesia. Ele escrevia compulsivamente, muitas vezes interrompendo o que estava a fazer para acrescentar um verso ao papel que tinha sempre ao lado ou até no bolso das calças. Foi com ele que eu comecei a interessar-me por poesia e foi nessa época que eu comecei a ler grandes poetas portugueses. Fernando Pessoa era dos que mais me inspirava até porque muitas das suas obras começaram a ser publicadas na empresa onde eu trabalhava, INCM.
Em frente à INCM existe um dos mais famosos Jardins Botânicos da Europa e era para lá que eu ia a maioria das vezes escrever, onde realmente me sentia bem e inspirado.
Pensei por essa época final dos anos 80 começar a mostrar o que escrevi e má época escolhi. Fui apelidado de vadio, porque poeta nesse tempo e não só, era um vadio, também podia ser maluco, ou com tanta coisa para fazer e a perder tempo com merdas, ou então, vai mas é cavar batatas, enfim, realmente convenci-me que nem para mim merecia guardar tanto papel, cerca de duas resmas principalmente em papel A4 foram por mim destruídas num famoso dia de raiva e frustração.
Quis o destino que no principio da década de 2000 encontrasse numa Bíblia, que nunca mais tinha lido, o celebre poema À ESQUERDA DAQUELA ÀRVORE. Talvez fosse o destino, talvez fosse mensagem espiritual, talvez...
Hoje guardo religiosamente esse poema como testemunho de uma época passada.
Mas nunca mais voltei a ser o mesmo!...
Victor Jerónimo
09.Jan.2014